sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A S. Miguel em tempo de paz






Miguel, Miguel: Estrela da Manhã,
Miguel dos Exércitos do Senhor,
Apertai a vossa mão sobre a espada embainhada, Miguel,
Dobrada e apertada sobre o punho, Miguel,
Sob a plenitude da Vossa alva pendente,
Cinge-nos com o segredo da espada.



Quando o mundo fendeu por um escárnio,
Deixando no céu uma cicatriz para sempre,
Ergueste-vos contra o Horror nas Alturas,
Precipitando o poderoso que olhou sobranceiro para o Altíssimo:
Removendo do sétimo céu o inferno da mania
Desde o sétimo céu para um mar de trevas ardente:
Vós que num trovão atirastes o Dragão
Sabeis em que silêncio a Serpente pode voltar.





Precipitando-se pelo universo a vasta noite cai
(Miguel, Miguel: Estrela da Manhã!)
Do fundo do universo clamam as calmas profundas
(Miguel, Miguel: Miguel da Espada!)
Não nos deixeis perder nos mares do esquecimento,
No sinal deixado há muito pelo furor e pela petulância
No santo e imenso sempre eterno silêncio
No princípio era o Verbo.





Quando dos abismos de um inaudito Deus agonizante
Anjos e demónios que tudo fazem menos morrer
Vendo-O cair sem o poder seguir,
Vendo-O subir sem poder voar,
Mão na espada, Vossas legiões em prontidão
Esperando pelo Tetelestai* e a aclamação,
Espadas que O saúdam morto e Eterno
Deus acima de Deus e maior do que o Seu Nome.



Rodeando-nos e cobrindo-nos frias ideias rastejantes
(Miguel, Miguel: Miguel do grito de guerra!)
Rodeando-nos e por baixo de nós o mundo apinhado dorme
(Miguel, Miguel: Miguel da Carga!)
Guardai-nos o Verbo; aconchegante e confiável
Acima da honra e da lâmina polida
Delicado como um cabelo e tenso como uma corda de harpa
Pronto como quando silva rumo ao alvo.





Aquele que nos deu a paz; não como o mundo a dá:
Aquele que nos deu a lei; não como a dos escribas:
Será ele amolecido pelo compromisso das cidades
Calando com a usura; manso com o suborno?
Aqueles que nos desencorajam, dizendo que a espada partiu,
Quebram os homens pela fome, atam-lhes a mãos com o ouro,
Vendem-nos como ovelhas; mas ele conhece a venda
Pois Ele foi mais do que assassinado. Ele foi vendido.



Miguel, Miguel: Miguel da Convocação,
Miguel da marcha pelas montanhas do Senhor,
Comandai o mundo e purificai-o da podridão e da revolta
Prevalecei sobre o mundo até que ele acalme:
Decretai neste mundo perdido
Que o verbo prevalece.**








* Estar consumado, consumação.
** Palavra
G. K. Chesterton

Tradução idiomática: António Campos

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