sábado, 20 de fevereiro de 2016

Ubbi Ecclesia





O nosso castelo é a oriente do sol,
E o nosso castelo é a ocidente da lua,
Tão sabiamente oculto de todos os sábios
Num remoinho de ar, numa prega dos céus,
Eles vão a oriente, eles vão a ocidente, da terra onde se situa
E é um tolo que o encontra.




O nosso castelo é a oriente do sol
Não cumpre a lei da luz do sol,
O último tiro de Apolo
Dissipa-se sem atingir a torre
A oriente dos fanáticos, dos fortes,
Montados em cavalos dourados,
Estranhos sois nos têm orientado
Estranhos compassos do dia e da hora.
De coração estranho a Deméter,
Com pensamentos que desagradam a Atena,
Tateámos à mortiça luz do dia
Para uma noite mais escura:
Vimos a sua estrela no Oriente
Parece escura como uma nuvem, vista do ocidente,
Para o romano um fedor da Ásia,
Para os gregos, uma loucura.



Porque o sol não é senhor, mas servo
Do secreto sol que nós vimos:
O sol da cripta e da caverna,
A coroa de uma rainha secreta:
Onde as coisas não são o que parecem
Mas o que significam.



O nosso castelo está a oeste da lua
Mas a lua não o domina,
Cornos e cavaleiros choram
Sobre o seu grande Deus não esculpido:
Está a oeste das luas mágicas
Onde dormem ídolos com face de lua
A oeste do grande cristal de cor lunar
Onde magos murmuram e meneiam a cabeça:
As papoilas negras e púrpura
Que crescem no jardim de Gautama
Cessaram de lançar sobre nós
O doce cheiro do seu desespero:
E as máscaras amareladas dos Antigos
Mirando o oeste dos seus templos tilitantes
Vêem esperança na nossa colina Monte da Alegria,
Um novo amanhecer e os dançarinos.




Porque a Lua não é senhora, mas serva
Do sorriso que brilha mais do que o Sol:
E tudo o que desejam e por que anseiam
E cansado de vencer, está vencido
No nosso Castelo de Joyous Garde
Desejado e consumado.




E queda-se ténue mesmo a meio
A ponte nomeada Ambos-e-Nenhum,
Para leste um vento do ocidente,
Para oeste a luz do oriente:
Mas o mapa não é feito de homem
Que possa traçar o seu lugar debaixo do céu,
Que seja anotado, perdido e esquecido
A maior coisa e a menor.



Porque o nosso castelo é a leste do sol,
E o nosso castelo é a oeste da lua,
E o mapa dos sábios labirinto sombrio
Aponta para oriente e para ocidente de onde se situa,
Um tolo caminha cego pela estrada larga
E de pronto o encontra.








G. K. Chesterton, tradução António Campos



Notas:


O castelo a oriente do sol e a ocidente da lua é uma expressão dos contos infantis ingleses e que Chesterton atribui em "A Nova Jerusalém" à cidade de Jerusalém, o centro do mundo. Está a oriente da luz do sol da Europa que enche o mundo de sanidade e que vê continuidade nas coisas reais; está a oeste da luz da lua da Ásia, misteriosa e arcaica, fonte dos espelhos dos poetas e uma atração fatal para os lunáticos.

Apolo é o deus do sol.

Deméter a deusa das colheitas e da agricultura.

Atena é a deusa da sabedoria, da justiça e do propósito.

Gautama Buddha originou o budismo.

Castelo de Joyous Garde é o nome dado ao castelo de Lancelot após Lancelot ter quebrado o feitiço do castelo de Dolorous Guard. Seria visitado pelo rei Artur e Guinevere e seria a última morada de Lancelot. Pode traduzir-se o sentido da expressão lenda arturiana do séc. VI como a fortaleza da alegria jubilosa.





O significado profundo da vinda de Cristo é oculto para os que não são humildes e é evidente aos pequeninos. Porque sendo grande é Ele próprio humilde. Estranho e desprezado pelo ocidente, rompe com a influência do pessimismo oriental. É a sede da alegria; a alegria é a sua marca, "onde as coisas não são o que parecem mas aquilo que são."

"Cornos e Cavaleiros choram sobre o seu grande Deus não esculpido": outra vez a ligação com as ideias de A Nova Jerusalém. Referência à batalha dos Cornos de Hattin, perdida pelos cruzados para Saladino e com ela o ideal de uma cidade-estado, onde havia guildas, justiça para os burgueses e para os camponeses, comércio para os mercadores. Onde existia uma sã convivência entre cristãos, judeus e muçulmanos. Era uma Commonwealth baseada no código justiniano. O Deus não esculpido já se apresentou há 2016 anos, partiu a História a meio, pelo que dispensa apresentações.

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