quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A Natividade



A Natividade,  G. K. Chesterton



O colmo no telhado, dourado,
De palha velha cheio de pó,
O vento como um repicar de trombeta,
Num uivo árido e gélido,
O cabelo da mãe iluminado
Apesar de solto, despenteado
Sob os beirais ao crepúsculo
Uma criança nasceu.



E se nascem milhares de crianças.
E se crescem milhares de crianças,
Na brutalidade, sem amor, amarguradas,
Criadas com ardis, selvagens e frias?
Deus permanece. Com uma paciência infinda,
Manso, sempre novo,
E uma vez mais, para essas crianças perdidas
Uma criança nasceu.



Que sabemos nós das eras de outrora,
Dinastias difusas, há muito esquecidas,
Impérios enormes, como sonhos perdidos,
Grandes metrópoles, há tanto tempo caídas?
Esta, pelo menos – entre bênçãos e maldições
Com rosas e com espinhos,
É o amor, e o seu grito ecoa entre elas,
"Uma criança nasceu."



Apesar de trevas uivantes, de sistemas,
Fantasias negras, que incomodam e contestam,
Ainda assim as plumas ondulam à nossa volta e sobre nós
As sombras aladas do amor:
Oh! Príncipes e padres, tende-lo visto
Lentamente crescendo, rompendo o vosso sarcasmo.
Grandiosas auroras tornaram-se ocasos; ó mudanças profundas,
Uma criança nasceu.



E as angústias do trabalho são douradas
Pela aurora da estrela do coração,
E os Reis Magos acercam-se no final do dia,
De quem está cansado de aprender e da arte,
E o rosto do tirano ensombra-se.
O seu espírito estilhaça,
Porque um novo rei é entronado; sim, o mais firme,
Uma criança nasceu.



E a mãe encanta-se com os sussurros
A primeira pista que vem do silêncio,
Ainda sente o desfraldar do momento alto
O brilho encarnado das asas de Gabriel.
O bebé por uma hora é um senhor
Vestido e servido por anjos,
Emmanuel, profeta, ungido,
Uma criança nasceu.




E vós, que estais ainda em vosso berço,
Que o sol coroa a vossa fronte.
Respondei-nos, nossa carne, respondei-nos,
Dizei, de onde vieste - Quem sois vós?
Voltaste à nossa Terra para nos ensinar
Para nos preparar ou para nos avisar?
Chiu! - como se pode saber? – Apenas sabemos que
Uma criança nasceu.




Tradução António Campos e Anália do Carmo




The Nativity,  G. K. Chesterton





The thatch on the roof was as golden,
Though dusty the straw was and old,
The wind had a peal as of trumpets,
Though blowing and barren and cold,
The mother's hair was a glory
Though loosened and torn,
For under the eaves in the gloaming
A child was born.

Have a myriad children been quickened.
Have a myriad children grown old,
Grown gross and unloved and embittered,
Grown cunning and savage and cold?
God abides In a terrible patience,
Unangered, unworn,
And again for the child that was squandered
A child is born.

What know we of aeons behind us,
Dim dynasties lost long ago,
Huge empires, like dreams unremembered,
Huge cities for ages laid low?
This at least--that with blight and with blessing
With flower and with thorn,
Love was there, and his cry was among them,
"A child is born."


Though the darkness be noisy with systems,
Dark fancies that fret and disprove,
Still the plumes stir around us, above us
The wings of the shadow of love:
Oh! princes and priests, have ye seen it
Grow pale through your scorn.
Huge dawns sleep before us, deep changes,
A child is born.

And the rafters of toil still are gilded
With the dawn of the star of the heart,
And the wise men draw near in the twilight,
Who are weary of learning and art,
And the face of the tyrant is darkened.
His spirit is torn,
For a new King is enthroned; yea, the sternest,
A child is born.

And the mother still joys for the whispered
First stir of unspeakable things,
Still feels that high moment unfurling
Red glory of Gabriel's wings.
Still the babe of an hour is a master
Whom angels adorn,
Emmanuel, prophet, anointed,
A child is born.

And thou, that art still in thy cradle,
The sun being crown for thy brow.
Make answer, our flesh, make
an answer,
Say, whence art thou come--who art thou?
Art thou come back on earth for our teaching
To train or to warn--?
Hush--how may we know?--knowing only
A child is born.


G K Chesterton's poem Nativity


Sem comentários:

Enviar um comentário