quarta-feira, 5 de junho de 2013

Eça de Queirós e G K Chesterton III



"O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia." Eça de Queirós





Chesterton era filho de um comerciante imobiliário londrino bem sucedido, da classe média, que distinguia a diferença entre viver e ganhar a vida. O testemunho sobre o teatro de bonecos que tinha em casa indicam-nos um lar com carinho, partilhado e feliz. Nada apontava Chesterton à Igreja Católica, uma vez que o seu pai era um liberal na política e na religião, sendo seguidor do Rev. Stopford Brooke e da sua “nova teologia”, uma secessão da Igreja Anglicana sob forma de Unitarismo. Casou, como socialista ateu, em 28 de Junho de 1901, aos 27 anos, por amor, com a irmã da namorada de um amigo, “uma rebelde conservadora contra os dogmas dos libertários”. Ambos pobres, sem meios de subsistência, casaram contra a vontade das suas famílias. A mãe de Frances Blogg considerava Gilbert “um convencido”. 

Antes de conhecer a noiva, tinha feito uns versos a uma hipotética amada:

“Acerca daquela que ainda não encontrei
Pergunto-me o que estará ela a fazer
Agora, ao pôr-do-sol
Talvez a trabalhar, ou a tocar, preocupada ou sorridente,
Estará a fazer chá, a cantar uma canção, ou a escrever,
A rezar, ou a ler?
Será uma pensadora, como eu sou um pensador?
Estará neste momento a olhar pela janela
Tal como eu estou agora a olhar pela janela?”


E as palavras que escreveu a propósito da sua declaração a Frances:

"Se eu tiver alguma relação com esta moça, eu colocar-me-ei de joelhos; se eu tiver uma relação com ela, ela nunca me desiludirá; se eu depender dela, ela nunca me abandonará; se eu a amar, ela nunca me fará ciúmes; se eu confiar nela, ela nunca me atraiçoará; se eu a recordar, ela nunca me esquecerá. Se calhar nunca mais a vou ver. Adeus. Saiu tudo de supetão: mas não deixei nada por dizer..."



Manteve-se a seu lado toda a vida. Tinha uma concepção paritária do sexo feminino ou mesmo superior, por via da maternidade. Opunha-se ao sufragismo, não porque descresse da inteligência da mulher ou do seu valor, mas porque estava convencido que o sufragismo era apenas mais um instrumento dos movimentos libertários, que varriam a Europa desde os finais do séc XVIII e séc XIX, e que apenas se destinavam a combater o matrimónio e a família.


Eça nasceu como filho ilegítimo no seio de uma família tradicional, nado em segredo e dissimulação, com paternidade apenas reconhecida aos quarenta anos. Foi educado pelos avós e por uma ama brasileira, sem a presença dos pais, interno no colégio da Lapa no Porto, até rumar a Coimbra e à Universidade, onde se licenciou em Direito. Foi entre os seus camaradas da universidade e, mais tarde, no Cenáculo, que encontrou o seu “teatro de bonecos”. Neto de um juiz desembargador e filho de um juiz de origem brasileira, que foi par do Reino e fidalgo cavaleiro da Casa Real, a sua carreira fez-se em grande medida no aparelho do Estado. Reservado e de saúde frágil, tímido, alto e esguio, manteve sempre a reserva e a prudência de um diplomata. Eça casou aos 40 anos, num casamento de conveniência, com a filha dos condes de Resende. Até ao casamento, teve várias relações conhecidas com outras mulheres1.


Inicialmente tinha uma ideia da mulher, muito semelhante à de Proudhon2: um objecto de prazer, uma dona de casa, um casamento por conveniência. Mas esse conceito evoluiu, sobretudo desde que chegou a Inglaterra.

Embora os seus romances abordem o incesto, o adultério e a lascívia, Eça era tudo menos um iconoclasta revolucionário nos costumes; era mesmo um empedernido conservador. Mantinha um certo distanciamento com a mulher e os filhos3.


Basta observar um pouco as maneiras da inglesa moderna para se ver que ela poderá ser tudo – uma hábil cavaleira, uma excelente caçadora, um forte cocheiro, uma adorável amante, uma excelente atiradora à pistola, um óptimo companheiro de viagem, um atrevido parceiro para uma partida de bacará –, tudo, menos uma esposa e uma mãe. A maneira como se vestem, o atrevimento dos olhares, o hábito das conversações picantes, o vício do namoro, o gosto pelas bebidas fortes, a paixão pelos exercícios masculinos, a avidez de independência, o desdém público – tudo revela, a quem as conhece, uma tendência irresistível para o amor livre. A isto junte-se o temperamento ardente, uma imaginação excitada, uma natureza voluntária – e compreender-se-á a situação. A única coisa que a retém ainda é o medo da opinião, do escândalo, da impressão; no dia em que este salutar receio diminuir, ou por cair em descrédito ou por o impulso da paixão ser mais forte – a Inglaterra voltará aos tempos mais devassos da sua história, e repetir-se-á a época fatal dos Stuarts.” Crónicas de Londres, 1877.

Chesterton apreciava a exposição pública, a polémica e a contracorrente. Abandonou a Slade School of Arts, após 3 anos,  para trabalhar em jornais: The Speaker, The Clarion, The Daily News, The Daily Herald e fundou o seu próprio jornal- The Eye Witness, 1911-12, The New Witness, 1912-23, G.K.'s Weekly, 1925-36, The Weekly Review, 1936. Tal nunca o impediu de criticar os jornalistas e os jornais, ao apontar o vício das caixas jornalísticas, a superficialidade no tratamento dos temas, a propaganda, incluindo a política, e a sua posse pelos grandes grupos económicos. 

Procurou saber como se processava o financiamento dos partidos políticos, a sua relação com o poder económico na génese da corrupção. Demitiu-se do The Daily News ao dizer dos políticos e empresários, incluindo os liberais Cadbury proprietários do jornal (a família monopolista do negócio do cacau e dos chocolates que moveu uma acção contra o Estado Português para terminar com a economia de São Tomé, e perdeu o processo): 
“Alguns são velhos cavalheiros agradáveis, outros são velhos cavalheiros desagradáveis, outros são apenas velhos, não sendo de todo cavalheiros”. E ainda: “Os melhores ministros de Sua Majestade são agnósticos; os piores, adoradores do demónio.”

Na BBC, onde tinha um programa, de 1932 até 1936, afirmou: “Importamo-nos que se nacionalizem os caminhos-de-ferro ou as minas, mas não nos importamos que se nacionalize a fala ou a língua”, numa referência ao monopólio estatal da BBC. Tinha que entregar previamente os textos que ia ler, mas, a bem da liberdade de expressão, não tinha forçosamente que estar restrito ao conteúdo do texto. A sua mensagem alcançou milhões, embora já fosse famoso desde os 32 anos.



Entre 1904 e 1908, a sua vida era um frenesim: em 1904, na sequência dos seus trabalhos sobre Dickens e Browning, Sir Oliver Lodge oferece-lhe a regência da cadeira de literatura inglesa na universidade de Birmingham, mas ele declina; fazia regularmente prelecções na Igreja de São Paulo em Covent Garden, escrevia em jornais; dava conferências em organizações políticas, económicas, religiosas; escrevia no Daily News e, de 1905 até 1936, no Illustrating London News, a sua coluna semanal, “Our Notebook”; escreveu livros: G. F Watts (1902), Twelve Types (1902), Robert Browning (1903), The Napoleon of Notting Hill (1904), O Clube dos Negócios Estranhos (1905), Hereges (1905), Charles Dickens (1906), O Homem Que Era Quinta-feira (1907), Ortodoxia (1908). Tinha encontros regulares com Joseph Conrad, Henry James, Laurence Binyon, James M. Barrie, Max Beerbohm, Swinburne, George Meredith, Yeats e Granville Barker. Foi por esta altura que ganhou a imagem de distraído, porque estava realmente submetido a uma pressão imensa. Foi uma das razões por que mudou de Battersea para Beaconsfield, nos arredores de Londres.

Chesterton nunca se coibiu de criticar a política do seu país nem de afirmar a sua religião num ambiente hostil. Estudou com afinco a Weltanschauung alemã por forma a melhor a poder expor à luz da verdade. 
Foi um homem contra a corrente, contra a Zeitgeist, um líder de uma minoria, destemido, um visionário, um homem não escravo do seu tempo. 
Um homem que lemos para melhor compreender o nosso tempo e, afinal, todos os tempos. Um verdadeiro intelectual católico, embora se considerasse a ele próprio um homem comum. Afirmava mais ideias do que personagens e, mesmo em O Homem Que Era Quinta Feira, a que Chesterton chamou um pesadelo, e The Flying Inn, as personagens parecem mais ideias encarnadas. Mesmo as histórias de detectives têm para Chesterton o apelo de um filme, um drama, uma imagem pictórica, um simbolismo, um sistema de teologia.
Num dos seus primeiros livros de ensaios, The Defendant, 1902, ele caracteriza a moral da história de detectives: “ao tratar das sentinelas vigilantes que guardam os postos avançados da nossa civilização, tendemos a lembrar-nos que vivemos num acampamento militar, que faz a guerra a este mundo caótico, onde os criminosos, os filhos do caos, não são mais do que traidores que vivem dentro dos nossos muros.” 


Eça também escreveu em jornais, sobretudo o Diário de Notícias em Portugal e a Gazeta de Notícias no Brasil, mas tudo indica que conhecia muito bem o mundo da imprensa e dos seus gatekeepers: "O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia."

Eça limitou-se a fazer um retrato da sociedade do seu tempo. O seu objectivo foi transmitir uma atmosfera, de que era crítico. Existe uma estética e uma crítica. É um romancista e um retratista, não um polémico ou propagandista. A sua timidez levava-o a evitar a arena pública.

Encontra-se contudo subentendido nesse retrato um ambiente psicológico: inicialmente iconoclasta e devoto do positivismo e do progresso, e, no final, de regresso ao homem comum, concreto, à família, à religião, à terra; à rejeição do pessimismo como filosofia.4


Partilha com Chesterton o apreço pela arte: "O apreço exterior pela arte é a sobrecasaca da inteligência. Quem se quererá apresentar diante dos seus amigos com uma inteligência nua?" Ecos de Paris, 1888; o apreço pelo sentimento humano: "É o coração que faz o carácter" ; a desconfiança pela sobrepopulação das cidades, "Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade", A Cidade e As Serras, ed post 1901; a desconfiança pelos plutocratas em O Mandarim e o Plutocrata, 1880; a rejeição do ateísmo e do positivismo.5


A preocupação com o homem comum, tão marcada em Chesterton, sofreu uma evolução notável em Eça. Desde a marcada indiferença inicial até ao profundo interesse final – no seu mais ignorado e interessante romance autobiográfico tardio, A Cidade e As Serras, preconiza-se uma relação entre as elites e o povo de forma a que aquelas promovam este, socialmente. O personagem central, Jacinto de Tormes, representa a elite portuguesa afrancesada, desprovida de autenticidade, que enaltece o progresso urbano e industrial e se desenraíza do solo e da cultura do país. Mas Jacinto farta-se de Paris, vai viver para Tormes e trata de melhorar o nível de vida e instrução daqueles que para ele trabalham.

Eça foi seguramente um homem da sua época. Chesterton, uma vez na aurora da Igreja Católica, seguiu sempre em frente, sempre em crescendo. Eça teve com a Igreja uma relação inicial de afastamento de casa e uma relação final de regresso a casa, embora alguma dúvida metafísica, dostievskiana, pareça ter subsistido. O seu diletantismo e o dos seus amigos do grupo "Vencidos da Vida", tê-lo-ão afastado de chegar a porto certo, de fazer uma opção radical, de ruptura definitiva com o passado. Terá ficado pelo conforto da desilusão, pela ambiguidade do "pois", tão portuguesa. Ficou apenas com a angústia de ver envelhecer um mundo que julgara novo, e de ver reaparecer um mundo que julgava velho. 


Eça sempre buscou ser um intelectual e ser reconhecido como tal. O seu alter-ego era Flaubert e os realistas franceses do seu tempo. “Balzac e Dickens são os grandes criadores da arte moderna, mas não devemos ignorar a influência de Flaubert no Realismo. Pela minha parte tentarei seguir Balzac e Flaubert”, Cartas de Londres. Mas que diria ele hoje se soubesse que é considerado o equivalente português do autor de Madame Bovary? Ou que os críticos do conceituado jornal inglês The Observer o equiparam a Dickens, a Balzac ou a Tolstoi? Ou que Zola o considerou melhor que Flaubert?

Chesterton deixou uma mensagem, política, moral, filosófica e religiosa. Viveu e morreu de acordo com ela. A sua preocupação foi alertar o homem comum, sobretudo os católicos, sobre os perigos intelectuais que levariam ao afastamento da família e de Deus, à dissolução social. Nunca recusou vir para a arena pública esgrimir argumentos. Sempre com consideração, cortesia e respeito pelos seus oponentes, que também o respeitavam. Em Do We Agree?, 1923, George Bernard Shaw (Pigmalion/My Fair Lady) admitiu ter admiração por ele; H G Wells admitiu que se estivesse errado e Chesterton certo, esperava ter entrada no Céu pela mão de Chesterton. O seu estilo literário do paradoxo foi bem definido pelo seu amigo Mons. Ronald Knox: “O que é um paradoxo senão a afirmação do óbvio fazendo-o soar como falso?”

Dois homens diferentes, duas vidas distintas, mas dois hábeis pintores de ideias e de ambientes.

Um, jornalista, filósofo, teólogo, escritor policial, poeta, ensaísta e, naturalmente escritor. A sua vida foi sempre uma progressão em crescendo em direcção à sanidade, ao senso comum, ao bom senso.

O outro, um diplomata, sobretudo um romancista, que ambicionava ser grande como os romancistas franceses, mas que terá ficado a dever aos ingleses o seu estilo muito próprio e o seu lugar na História. Como se na sua cabeça Jane Austen vigiasse Flaubert, como se Elisabeth Bennett envergonhasse Emma Bovary. Como se vislumbrasse que Flaubert descreve uma certa alma feminina, com clareza e sem piedade, enquanto que Austen descreve a alma masculina, claramente e com sensibilidade. Como se o suicídio de Emma Bovary fosse inteligentemente substituído pelo afastamento de Maria Eduarda. A sua segunda fase, com A Ilustre Casa de Ramires, Os MaiasA Cidade e as Serras, destrói a imagem de um Eça ícone do materialismo e do ateísmo. Eça terminou a sua vida mais próximo da mulher e da família, da pequena urbe e do homem comum, mais próximo do porto de Chesterton do que do porto de Comte. 

Ambos grandes escritores e de honestidade intelectual indiscutível. Um, um homem da sua época e algo determinado pela sua circunstância, o outro, um homem de todas as épocas e de todas as circunstâncias.

Chesterton é maior do que Eça. Porque Eça retratou o espírito do seu tempo, enquanto Chesterton retratou o espírito humano. Eça retratou o homem como um animal social, Chesterton retratou o homem como um ser espiritual. Eça retratou a alma do ambiente, Chesterton retratou a alma humana. Eça mostrou-nos o vício e o deboche social da sua época e de todas as épocas. Chesterton deixou-nos uma mensagem espiritual para a nossa época. Sobretudo porque reconhecia que a Inglaterra do seu e do nosso tempo tinha já perdido Jane Austen para sempre. “Jane Austen pertence ao mundo desaparecido de antes desta idade gloriosa do progresso para a qual eu escrevo.”The Victorian Age in Literature, 1913.


“Para os romancistas é como se perdêssemos o melhor da família, o mais esbelto e o mais valido. Tal que começou pela estranheza acabou pela admiração”. 6
  
Carta escrita a 23 de Agosto de 1900 em que Machado de Assis expressa uma generosa e irrestrita admiração por Eça de Queirós.
                                                       “Da miséria fui escolhido” 7
                                              

António Campos

Anália Carmo (revisão e correcção)



Visita virtual à Casa de Tormes: http://www.feq.pt/vvfeq/index.html



1 Frank F. Sousa em “Cartas de Amor de Anna Canover e Mollie Bidwell para José Maria Eça de Queiroz, Cônsul de Portugal em Havana”, Lisboa, Assírio e Alvim, 1998, e o caso de “a bela desconhecida de Angers”, que justificou um livro de José Augusto França.

2 O filósofo Proudhon que foi uma grande influência para os anarquistas, defendia a mulher como um objecto de prazer do homem e a ele sujeita, devendo no entanto ser figura de proa dos movimentos libertários, para resgatar a mulher da tirania do matrimónio e a encaminhar para o serviço do falo. A letra A dentro do círculo significa “Anarquia é Ordem”. O círculo para ordem e A para anarquia. É uma analogia do lema Ordem e Progresso de August Comte.

3 Existe uma carta de Emília de Castro Pamplona (1857-1934), sua mulher, em que esta se queixava da indiferença com que o marido a tratava, dizendo-lhe que não era uma analfabeta e que pelo menos merecia receber um exemplar do jornal que ele acabara de fundar.



4 “O Pessimismo é uma teoria bem consoladora para os que sofrem, porque desindividualiza o sofrimento, alarga-o até o tornar uma lei universal, a lei própria da vida; portanto retira-lhe o carácter pungente de uma injustiça especial, cometida contra o sofredor por um destino inimigo e faccioso! Realmente o nosso mal amarga-nos quando contemplamos ou imaginamos o bem do nosso vizinho - porque nos sentimos escolhidos e destacados para a infelicidade, podendo, como ele, ter nascido para a fortuna. Quem se queixaria de ser coxo - se toda a humanidade coxeasse? E quais não seriam os urros, e a furiosa revolta do homem envolto na neve, friagem e borrasca de um Inverno especial, organizado nos céus para o envolver a ele unicamente - enquanto em redor toda a humanidade se movesse na benignidade de uma Primavera? (...) O Pessimismo é excelente para os Inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da Inércia.”, A Cidade e As Serras, 1901, ed post.






Positivismo e idealismo publicado em Julho de 1893 na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro e coligido no volume Notas contemporâneas:

“…O modo brutal e rigoroso com que o positivismo científico tratou a imaginação, que é uma tão insuperável e legítima companheira do homem como a razão...Eu, por mim, registo os factos. E penso que, agora, que o homem tomou posse da sua ardente companheira, a imaginação, e que tornou a provar as delícias que só ela lhe pode dar, não consentirá, nestes anos mais chegados, que o sequestrem dessa Circe adorável que transforma os seus amigos, não em porcos – mas em deuses.


É uma outra e renovada ansiedade de descobrir, neste complicado universo, alguma coisa mais do que força e matéria; de dar ao dever uma sanção mais alta, do que a que lhe fornece o código civil; de achar um princípio superior que promova e realize, no mundo, aquela fraternidade de corações e igualdade de bens, que nem o jacobinismo nem a economia política podem já realizar; e de achar, enfim, alguma garantia da prolongação da existência, sob qualquer forma, para além do túmulo. Esta é realmente a grande ansiedade, porque quanto mais a vida para cá do túmulo se alarga em actividade e se multiplica em força, mais profundamente se infiltra na alma a ânsia do não cessar... Em suma, esta geração nova sente a necessidade do divino.


Mas onde esta reacção contra o positivismo científico se mostra mais decidida e franca é em matéria religiosa. Ah! O nosso velho e valente amigo, o livre pensamento vai atravessando realmente uma má crise! Talvez a mais aflitiva que ele tem afrontado, desde que nasceu sobre os claros céus helénicos e que balbuciou as suas primeiras lucubrações cósmicas e éticas, sobre os joelhos de Tales e de Sócrates.


…Os simbolistas com bocados esfumados de verbo e farrapos indecisos de sentimento arranjam-nos um desses nevoeiros poéticos onde as almas agora têm a paixão de se aninhar e de se esconder.”


6  "Para os romancistas é como se perdêssemos o melhor da família, o mais esbelto e o mais valido. (…) Por mais esperado que fosse esse óbito, veio como repentino. Domício da Gama, ao transmitir-me há poucos meses um abraço de Eça, já o cria agonizante. Não sei se chegou a tempo de lhe dar o meu. Nem ele, nem Eduardo Prado, seus amigos, terão visto apagar-se de todo aquele rijo e fino espírito, mas um e outro devem contá-lo aos que deste lado falam a mesma língua, admiram os mesmos livros e estimavam o mesmo homem." (carta a Henrique Chavez publicada pela Gazeta de Notícias em 24/08/1900).

Camilo Castelo Branco, apesar da Questão Coimbrã que opôs Romantismo e Realismo, comentando a estreia de Eça na literatura portuguesa com o romance O crime do padre Amaro, prognosticava: "Admirável. Obra-prima que há-de resistir como um bronze a todas as evoluções destruidoras das escolas e da moda."

7 "What are we going to play? Knocking on Heaven’s door. This is Jesus. We love your early work. Follow, follow that man. He…He…we all do. Now, Matthew here, has got the right T shirt. He’s got a friend of mine on it. A friend of mine…Who got hurt. He’s lost his way. And now he’s loosing it too. And I thank God this evening, That I am here with you. Beautiful boy, With a beautiful way of see in the world. Beautiful boy, And he loves the girls. Beautiful man…Although there was friction inside him. Could he have made a kind of peril instead? Now we’re Knocking on Heaven’s door. 


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